Escola do Reparar Ed#4-2023
novas ferramentas-conceito da filosofia habitada do Modo Operativo AND
Re-pouso & Re-voo: Amparo, Encanto e Restauração
(Re)começamos sempre pelo Ninho, assim como também (re)começamos a cada vez que deixamos o ninho e nos tornamos Bando.
A Escola do Reparar 2023 convida a uma viagem prática e vivencial de reencontro com as experiências encarnadas do Ninho e do Bando, concretizações que emanam dos gestos-rituais do Re-pouso e do Re-voo, questão-tema da edição deste ano.
Dando continuidade à pesquisa do Amparo e do Encanto enquanto vias de resgate da experiência sensível da inseparabilidade, o Re-pouso e o Re-voo serão desdobrados numa jornada duracional, marcada por diferentes oficinas, laboratórios e cursos-retiros a se desenrolarem ao longo do ano, criando um campo seguro para pesquisarmos e experimentarmos, íntima e coletivamente, modos de operar a Restauração.
Persistindo na investigação de como Reparar (n)o Irreparável, que sustenta o Modo Operativo AND, propomos uma demora na Restauração enquanto uma das muitas modulações da reparação. A Restauração é aqui convocada, ao mesmo tempo, enquanto descanso profundo e restauração das forças, na luta pela descontinuação do Irreparável sistémico, e enquanto re-historiação das formas de vida, permitindo re-formular, e, assim, re-orientar, os nossos modos de existir, relacionar e habitar, na direção do respeito e do honrar da Vida.
Acreditamos que sintonizar com a inseparabilidade ao nível do corpo-soma é imprescindível para dar sustentação a um posicionamento político consistente de desprogramação, no plano íntimo do cada-ume (e, por reverberação, no plano coletivo onde somos muites), das lógicas de Dívida e Dúvida que, consecutivamente, vem corrompendo a nossa relação com a Dádiva e reiterando as lógicas usurpatórias do Irreparável hegemónico e estrutural. O desamparo e o desencanto, sob a forma do cansaço e da confusão, por um lado, e da tristeza e da indiferença, por outro lado, configuram a sintomática da expropriação capitalística do sensível, e produzem a ilusão da separação característica das subjetividades contemporâneas, reiterando a perpetuação do saque Irreparável.
Desmobilizar o Irreparável, assim, envolve re-membrar - lembrar que somos inseparáveis e, também, voltar a juntar o que foi separado, reparando (n)o acesso a uma sabedoria do (i)limite, muito mais vasta do que cada ume de nós: a sabedoria encarnada, implicada e intemporal do agregado Soma-Terra que nos conecta ao Fundo Comum da Vida.
Para enfrentar essa missão, que reencena a questão-chave do Modo Operativo AND - como matar o sistema (em nós) sem morrer? - é preciso estarmos restaurades. Com as forças refeitas, e com as formas amolecidas, porosas, reabertas - deformadas…
Assim, ao invés de responder, re-perguntamos:
Ante o Irreparável manifesto na ilusão da separação e no consequente afeto do esgotamento/desamparo e do embotamento/desencanto, COMO (SE AUTO)ANINHAR E (SE DE)BANDAR?
Chamamos um Estado de Re-pouso, no qual possamos re-orientar o desamparo em Amparo. Um estado, ao mesmo tempo, de des-canso (repouso) e de reencontro com o corpo-soma da Terra (re-pouso), no qual é possível voltar a chegar, aterrar e abrir caminho para uma regeneração urgente. Fazer Ninho para, assim, permitimo-nos ser (re)feites por ele, reconectando com o sustento, o envolvimento, o abrigo e o refúgio do Amparo, no qual torna-se possível reaprender a receber.
O ninho, onde re-pousamos em Amparo, é onde se pré-para (numa pausa-espera pelo nascimento, ou renascimento), onde se prepara (no gestar, esse gesto de construir o que virá) e, por vezes, também onde se repara (oferecendo campo seguro para o refazimento da vida através de deixar morrer aquilo que precisa morrer) De variadas maneiras, o ninho é onde a força do porvir re-pousa até tomar, outra vez, forma de Vida - se encantar e re-voar.
Então o ninho é também lugar da manifestação primeira do encanto: fulgor da vida-morte a irromper. Portal, no aqui-e-agora, para a beleza e a justeza de tudo que há.
Chamamos um estado de Re-voo, no qual possamos re-orientar o desencanto em Encanto. Um estado de des-ilusão radical, no qual, porque descolamos dos mecanismos da identificação e do entendimento, enfeitiçamos a maldição do ponto de vista individual que, desfeita, nos permite também decolar: entrar na revoada, retornar ao Bando. Na solidariedade infra e trans individual do bando, re-ligamos o acesso ao Encanto, passagem para a ordem implicada do Mistério, para o manancial (extra)ordinário dos possíveis da Vida, em constante re-generação e re-união, no qual torna-se possível reaprender a retribuir.
O Bando - que é também debandagem da solidão sistémica - é quando e onde experimentamos a fusão sem confusão, a integridade sem inteireza do existir em co(n)sentimento com o Tudo-Todo, ao mesmo tempo aquém e além do ume. É quando e onde incorporamos o re-conhecimento de inter-sermos (e infra-sermos, e trans-sermos), e experimentamos a (des)integração na pertença à imensidão do Fundo Comum da Vida. Fazer bando é fazer nada a não ser estar a serviço: em sintonia com o entorno mais imediato, nem mais rápido nem mais devagar, nem muito perto nem muito longe, nem muito igual nem muito diferente, nem faltante nem em excesso, apenas e justo num estado que é porque é comum.
Fernanda Eugenio | Lisboa, março de 2023
Sobre a Escola
A Escola do Reparar é um programa anual continuado de investigação-criação expandida e formação artístico-política, que abriga quatro interfaces de encontro e se desenrola no eixo Portugal-Brasil.
Apoiada na criação sempre em processo de Fernanda Eugenio com o Modo Operativo AND, em colaboração com a rede multilocalizada de artistas do Coletivo AND e com diferentes artistas convidades a cada vez, a Escola do Reparar toma, a partir da constelação prático-teórica do MO_AND, uma questão-tema por ano como mote para a criação de novos dispositivos performativos de encontro, proposições vivenciais, jogos e ferramentas de composição-criação coletiva, adotando a estrutura duracional da viagem para convidar à habitação e à persistência no trabalho íntimo-político da trans-forma-ação.
As suas quatro linhas de atividades estão desenhadas de modo a propiciar às pessoas participantes um percurso gradual e amparado de navegação na questão-tema do ano.
Começamos sempre pelo hANDling, oficinas de partilha do MO_AND e práticas afins (março a junho; setembro a novembro, em Lisboa e diferentes cidades do Brasil a cada ano), dedicado a oferecer as bases de sustentação da jornada anual, através da introdução e do desdobramento das ferramentas-conceito e princípios centrais do Modo Operativo AND, aliado a práticas corporais do Coletivo AND.
A seguir, entramos nos Estudos Indóceis, grupo de estudos praticados e experimentais (maio - Portugal e outubro - Brasil), dedicado a partilhar a filosofia habitada à volta dos conceitos em foco a cada ano.
Chegamos então ao LANDscape, curso-retiro imersivo (julho - Portugal e janeiro - Brasil), construído sob a forma de jornada-ritual de trans-forma-ação, na qual o Modo Operativo AND se multiplica num conjunto de proposições político-afetivas encarnadas mais complexas, que convocam diferentes modulações de jogo da constelação AND lado a lado a peças-rituais especialmente criadas, a cada vez, para propiciar a experiência sensível e vivencial da questão-tema. Esta atividade é, ao mesmo tempo, fim e começo: uma culminância da jornada de cada ano, todos os meses de julho, que, ao se repetir em janeiro, opera também a pré-paração para o ano seguinte, e para uma nova questão-tema prestes a emergir.
Toda a viagem é assistida e nutrida pelo [under]stANDing, programa de investigação continuada e de criação de artefatos por Fernanda Eugenio em colaboração com o Coletivo AND. O stANDing é a escola sendo gestada enquanto acontece e perpassa todo o ano em duas temporadas (fevereiro-julho e setembro-janeiro), compostas por trabalho presencial no Atelier AND Lab em Lisboa, encontros online e pelas Residências de Criação LAND, se abrindo ao exterior através de sessões de partilha e mostra informal de processos algumas vezes por ano.
Cabe ainda ressaltar que, embora hANDling, Estudos Indóceis e LANDscape se constituam enquanto atividades encadeadas, estão articuladas de modo a também permitir o ingresso de novas pessoas participantes a qualquer momento da viagem, que venham a acessar a experiência de modo avulso e pontual.
A Escola do Reparar propõe habitar o 'entre' enquanto intervalo de potência, instaurando-se no seio dos cruzamentos arte-vida e estruturando-se de forma espraiada e multilocalizada, no trânsito entre Portugal e Brasil, entre o urbano e o rural e entre o presencial e o virtual, num compromisso em conjugar uma consistente deslocação subjetiva e sensível com o descentramento geográfico e a propagação digital. Reivindica-se, assim, enquanto campo de amparo para o encanto, enquanto campo seguro para o risco: firmado no cuidado e focado em (re)ativar a relação atenta com a Terra-Soma e, ao mesmo tempo, em infiltrar e sustentar um modo comunitário no quotidiano urbano e digital.
A Escola do Reparar oferece anualmente um mínimo de 25% de vagas sob a forma de bolsas integrais com perfil interseccional, para pessoas vulnerabilizadas por intersecções de classe, raça, gênero, deficiência, orientação sexual, corporalidades dissidentes, migração e/ou origem étnica.
As atividades da Escola do Reparar em Portugal são bilíngues (português e inglês) sempre que necessário.
As atividades da Escola do Reparar em Portugal têm tradução em Língua Gestual Portuguesa sempre que necessário.
As instalações do Atelier AND Lab em Lisboa são acessíveis para pessoas em cadeiras de roda ou canadianas/muletas.
ATIVIDADES ABERTAS NO MURAL DE EVENTOS PARA INSCRIÇÕES/INFORMAÇÕES
[poderá sempre retornar a esta página ao longo da programação anual para acompanhar novidades: as novas atividades do calendário serão adicionadas à medida que tiverem as suas inscrições/informações disponíveis]
LANDscape [Brasil] | Escola do Reparar 2023 [Ed#4]
13/01/24, 12:00
Fazendinha/Casa Amarela
Módulo Final do 2º Semestre de 2023 | Curso-Retiro Imersivo de Aprofundamento do Modo Operativo AND + Práticas Político-Afetivas Encarnadas com as Ferramentas-Conceito Re-Pouso & Re-Voo | com Fernanda Eugenio & Coletivo AND
[under]stANDing | Práticas de Cuidado: o MO_AND na Clínica com a Subjetividade
31/10/23, 19:00
Via Zoom.us
Escola do Reparar 2023.2 [Ed#4] | Sessões online via zoom, quinzenais às terças-feiras | Com psicólogos membros do Coletivo AND Iacã Macerata e Ruan Rocha + Interlocutora convidada: psicóloga Mariana Pelizer
LANDscape [Portugal] | Escola do Reparar 2023 [Ed#4]
21/07/23, 13:00
Trust Collective
Módulo Final do 1º Semestre de 2023 | Curso-Retiro Imersivo de Aprofundamento do Modo Operativo AND + Práticas Político-Afetivas Encarnadas com as Ferramentas-Conceito Re-Pouso & Re-Voo | com Fernanda Eugenio, Coletivo AND e Artistas Investigadores convidades
Direção | Direction: Fernanda Eugenio
Curadoria e Formulação Conceitual | Curation and Conceptual Formulation: Fernanda Eugenio
Equipa Artística e Pedagógica | Artistic and Pedagogical Team: Fernanda Eugenio, Guto Macedo, Iacã Macerata, Manoela Rangel, Mariana Pimentel, Milene Duenha, Naiá Delion, Pat Bergantin, Ruan Rocha
Acompanhamento e Cuidado | Monitoring and Care: Iacã Macerata e Ruan Rocha
Interlocuções Convidadas | Guest Interlocutions (LANDscape Barril de Alva): Ana Dinger, Bernardo Chatillon, Sílvia Pinto Coelho
Design e Manutenção Plataforma Online | Design & Online Platform Maintenance: Alexandre Eugenio/Boxer Crab
Produção | Production: Catarina Serrazina
Produção local (Brasil) | Local Production (Brazil): Núcleos AND Lab Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Palmas
Comunicação | Communication: Pat Bergantin
Documentação Audiovisual | Audiovisual Documentation: Gabriela Jung e Inês T. Alves
Parcerias Portugal | Partnerships Portugal: Trust Collective, Plataforma Revólver
Parcerias Brasil | Partnerships Brazil: UnB, Galeria DeCurators, Centro de Dança do Distrito Federal, Casa Amarela/Fazendinha, Pés no Chão, Fundaci
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