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QUÊ?

(O AND Lab)

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O Modo Operativo AND [MO_AND]

O Modo Operativo AND (MO_AND) consiste numa ética do Re-parar, da Reparagem e da Reparação, sistematizada num conjunto de ferramentas-conceito e de proposições-jogo que, ao mesmo tempo, propõe e propicia:


  • a investigação direta e experiencial dos funcionamentos do Acontecimento e da Relação;

  • a explicitação dos modos de emergência e de sustentação de acontecimentos comuns metaestáveis;

  • a sensibilização às condições de possibilidade contingentes-impermanentes de cada encontro e às consequências políticas dos posicionamentos individuais e/ou coletivos;

  • a afinação das capacidades de distribuição não-hierárquica da atenção e de (re)inventário trajetivo do possível, simultaneamente no plano da auto-observação em ato e no plano do mapeamento da situação envolvente;

  • o treino da disponibilidade à diferença e ao acidente/imprevisto, da comparência atempada, da tomada de decisão situada e da colaboração dissensual;

  • a transferência de protagonismo do sujeito para o acontecimento, ou seja, a prática co(m)passionada da presença;

  • o exercício de uma equiparação consistente entre autocuidado e cuidado do entorno e entre o discurso proferido e a sua efetuação no fazer;

  • a frequentação exploratória de disposições subjetivas e relacionais dissidentes para a performance íntima e social dos afectos, numa pesquisa de alternativas aos modelos identitários e aos scripts pré-definidos e hierarquizados.


Este sistema, concebido e desdobrado pela antropóloga e artista Fernanda Eugenio, é uma investigação viva e aberta, em constante transmutação e a partir de uma confrontação deliberada e insistente com o uso e com a prática.

Ao longo de quase duas décadas dedicados a esta pesquisa, Fernanda Eugenio designou-a de diferentes modos, até à estabilização no nome Modo Operativo AND. O seu carácter distintivo reside sobretudo na força, na consistência e na singularidade do arcabouço conceitual original por ela entretanto desenvolvido, que conforma o vocabulário performativo pelo qual o MO_AND é reconhecido.



Algumas das ferramentas-conceito e das proposições-jogo criadas por Fernanda Eugenio são:

  • a tripla modulação do reparar: re-parar, reparagem, reparação;

  • a tripla modulação da posição: dis-posição, (com)posição-com e re-posição – além do duplo percurso para desdobrá-las: da de-com-posição à re-posicão, da dis-posição à re-com-posição.

  • as políticas da convivência Modo Operativo É, Modo Operativo OU e Modo Operativo E (AND);

  • o Jogo das Perguntas QUÊ-COMO-QUANDO-ONDE;

  • os jogos de zona de interferência, percorrendo as escalas entre-muites, entre-nós, entre-dois, entre-si e Ghost.

  • os jogos de zona de transferência, para a descrição-circunscrição e formulação-performação do afeto: Isto-Isso-Isto e Isso-Isto-Isso;

  • os jogos de cuidado-curadoria: com o território-corpo ou com o corpo-território

  • o Diagrama Aberto-Explícito para a tomada de posição;

  • as dez posições ante o Irreparável: (an)coragem, co(m)passionamento, consistência, comparência, firmeza, franqueza, suficiência, justeza, des-ilusão, des-cisão

  • a nomenclatura Irreparável para abordar as feridas fundantes da pessoa e da cosmovisão/sensação modernas, bem como os diagramas exploratórios da tripla modulação do Irreparável: (ir)reversível/(in)cessável; (im)previsível/(in)evitável; (ir)remediável/(in)compensável

  • conceitos-neologismos, tais como secalharidade e pensacção;

  • jogos de palavras e de relações-tensão, tais como: Decisão/Des-cisão, Saber/Sabor, Manipulação/Manuseamento, Fragmentação/Desfragmentação, Eficiência/Suficiência, Coerência/Consistência, Justiça/Justeza, Relevância/Relevo, Condicionante/Condição, Rigidez/Rigor, Representação/Presentação, Interpretação/Circunscrição, Implicação/Explicação, Implicitação/Explicitação, Exibição/Exposição, (A)Parecer/Comparecer, Significado/Direção, Certeza/Confiança, Necessário/Preciso, (In)dependência/Autonomia etc.



​O MO_AND apoia-se na ativação do (contra)dispositivo do jogo não-competitivo e de regras imanentes como meio para a delimitação provisória de uma zona de atenção coletiva; como simulador de acidentes e como propiciador de uma simultaneidade entre dentro e fora. O recurso ao recorte – o tabuleiro de jogo – permite a instalação de “mundos dentro do mundo” e a exploração de diferentes escalas de menorização/maximização do (in)visível e de redução/ampliação do espaço e do tempo, estimulando o desenvolvimento de uma sensibilidade fractal, atenta e minuciosa às modulações relacionais da reciprocidade (justo meio entre a complementaridade e a simetria) e da suficiência (justo meio entre a eficiência e a desistência).


O MO_AND é uma prática transversal e sem pré-requisitos, partilhada em oficinas, escolas e laboratórios abertos à participação de qualquer pessoa interessada em estudar, de modo vivencial, as (micro)políticas implicadas na operacionalidade e na sustentabilidade do viver-juntes, bem como a praticar a ‘criatividade’ noutros termos: deslocada do registo autocentrado e expandida em inventividade divergente e eticamente comprometida com a justeza.


A experimentação ‘laboratorial’ da fractalização da percepção, aliada à ética proposta pelo MO_AND, tem efeitos concretos no comportamento, promovendo uma sensível diminuição da reatividade e do julgamento, uma correspondente ampliação da autonomia e da franqueza e uma tendência à sintonização entre afetos individuais e acontecimentos coletivos. Com a continuidade da prática, esses efeitos vão-se transpondo para a vida quotidiana e se infiltrando nos modos de ser-estar e criar-fazer, levando a sensíveis re-posicionamentos subjetivos e sociais.


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